o domingo cheio de trovoadas. elas eram fortes. deixaram o dia todo numa luz acinzentada. e me equilibraram razoavelmente. a cidade silenciosa, alguns pássaros reclamando. o som de um freio ao longe. a sirene emulando um desespero. o meu. mas os trovões e a água conversam comigo e me acalmam. dizendo que ele está trabalhando em algum lugar e que, ao olhar pela janela, verá um dia melancólico. um dia cinza e úmido, como o meu amar agora. um dia quando fazer piadas não significa nada. quando o depoimento de uma vítima sobre como adorava rir antes de morrer não vale absolutamente nada. sua insistência em ser feliz sob quaisquer circunstâncias me enoja. sua total incapacidade de co-sentir me atinge constantemente com indignação, abismo e perplexidade. e minha asfixia me aterroriza. um domingo em que você esteja livre e eu não saiba seu paradeiro. e eu me importe tanto. um domingo que me digere lentamente num ácido sem nome. seu nome.
domingo, 20 de dezembro de 2015
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
quarta-feira, 16 de setembro de 2015
esfregar-me.em.você.em.praça.pública.é.feio.você.disse.e.eu.digo.idiota.
ela escreveu dizendo como devia ser. ele lhe escreveu um email chamando-a para conhecer seus livros. ele escreve. ela pega o ônibus e cruza a cidade. ela chega em seu quarto e a estante está coberta de livros. mas um, está apartado. é aquele livro que ele escolheu. ela se aproxima e examina o livro sobre a mesa. há um marcador: página x, parágrafo y. ela começa a ler em voz alta. num volume médio, numa velocidade adequada. é quase uma oração. enquanto ela lê, ele se aproxima por detrás dela e cheira sua nuca. seu cabelo. mas não a toca. ela continua a ler o livro, tentando manter a respiração no mesmo ritmo. ela sabe que ele está atrás, próximo, mas não pode aferir exatamente onde. a leitura segue. e ele pede para ela abaixar a calça e diz seu nome. sem parar de ler o livro, ela obedece. ela confunde algumas sílabas do autor, mas continua. ela sabe o que vai acontecer, mas não sabe quando. não sabe. é angustiante, mas também é... e então, ele está dentro dela. ela, ofegante, vira a página e continua lendo. ele, também. a frequencia da voz e do corpo é constante. um ritual. mas em pouco tempo, desincronizam. ela está se apoiando à mesa e ao livro. a voz não acompanha mais os corpos. eles transmutam. estão presos e deformados. ela rasga a página do livro. movimentos mais bruscos. gritos. silêncio. espasmos.
que livro você vai escolher?
segunda-feira, 14 de setembro de 2015
mas.você.não.sabe.
eu atendo o celular rindo e desejando que você melhore do resfriado, mas por dentro odeio tudo. mas você não sabe. odeio esse quadrinho erótico que você está lendo. odeio a ilustradora. esqueço qualquer sororidade. mas você não sabe. odeio ela com força. porque ela captura seu olhar. e você tem um livro de 150 paginas pela frente e me manda as imagens dos quadrinhos de falta, de saudade, de sexo, de sofrimento. mas você não sabe. eu constrinjo o cenho porque a lágrima corre e isso repuxa minha pele áspera e a rasga, para que a pele nova que ainda não é capaz; é ingênua, nobre, bela (diferente da cratera da lua) surja sem querer surgir. mas você não sabe. que eu fiz isso na tentativa de recuperar minha auto estima. o absurdo. eu me queimei. queimadura literal. não sei ser vaidosa. mas eu me queimei. odeio você por me fazer ser assim. você me diz que volta sexta e que sábado trabalha e que domingo precisa fazer x e que segunda quer me ver. e quer almoçar. e quer ver um filme. eu sorrio e digo que adoraria. mas eu odeio tudo. você me faz mal. mas você não sabe.
mas mas-você-não-sabe não é sobre você não saber de todas essas coisas. mas-você-não-sabe é sobre você não saber se gosta de mim ainda. se me quer. se quer saber porque eu sei aquele samba de cor. mas eu não sou brasileira o suficiente pra você.
mas, moço: minha pele nova tá nascendo. se prepara.
segunda-feira, 7 de setembro de 2015
quarta-feira, 29 de outubro de 2014
eu.não.sou.uma.boa.amiga.
eu nem sei mais como fazer isso. olhei as coisas que escrevi aqui e não consigo imaginar a pessoa que podia ter feito tudo isso. que eu não sei categorizar. que eu não pude domar. coisa feia. sei lá. os outros poetizam. eu, esfrio. eu me coço. eu estou só. perdi um melhor amigo, ganhei uma paixão. não existe meio termo. não existe conciliação. e finalmente, cai água de mim. e não tenho controle. não é de raiva. não é desespero. não é de medo. é de reconhecer.
a verdade é que eu menti que minha paixão seria meu porto seguro. mas não é. nunca foi. aliás, são inconciliáveis. não é possível ter paixão e porto seguro. continuo não sabendo como lidar. mas eu optei pela primeira. a verdade é que faria tudo de novo. não me arrependo. mas assim: posso sentir saudade.
quinta-feira, 13 de março de 2014
Assinar:
Postagens (Atom)