um amigo meu de faculdade, aparecia numa especie de sala de aula de jardim de infancia. eu estava ali esperando, sentada numa mini-cadeira. pela janela da sala, via-se o parque e os brinquedos. aparentemente todos da minha sala iam se formar. eu aguardava algum documento final a ser assinado. ele entrou pela sala quase vazia, assinou o que tinha que assinar (sem me olhar ali no canto) e ia saindo. mas antes disso, foi até minha cadeira, debruçou-se, cheirou meu pescoço, esfregou seu rosto no meu rosto e me entregou uma espécie de envelope. depois saiu. foi um misto estranho de surpresa e excitação. [ele é atraente, mas desde o primeiro ano do curso me tratara com distanciamento].
abri o envelope aturdida. eram fotos, imagens, desenhos, relatos, todos relacionados à infancia dele. afeto. eu me apaixonei perdidamente por ele naquele instante. avalanche. pergunto-me porque ele esperou cinco anos para me entregar tudo isso. logo no ultimo dia de aula/escola/faculdade. agora, não mais o verei. ou sei lá. aquilo tudo me parecia muito forte para deixar para lá. eu continuo me perguntando por que ele demorou tanto tempo. e estou presa nesse ciclo repetitivo. ele não está mais lá.
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entro na sala de aula de jardim de infancia. assino os papeis. estou formada. vou saindo e vejo uma menina ali no canto, numa cadeira pequena, quieta e resignada. aproximo-me dela e a reconheço. toco-a e entrego-lhe um envelope com as minhas memórias numa espécie de mensagem apaziguadora. ela está sozinha, mas vai ficar tudo bem. eu saio. ela fica. ela abre o envelope e encontra fotos, imagens, desenhos, relatos, todos relacionados à sua própria infância. indaga-se porque demorou tanto tempo para se aceitar. porque é tão difícil admirar-se. [ela é legal, mas desde o primeiro ano sentira-se à margem].
continuo me perguntando por que demorou tanto tempo.
posso me mover que a menina vai continuar sentada lá.